Gosto de ler dizendo em voz baixa as palavras dos livros que amo. É como se alguém conversasse comigo ao mesmo tempo dizendo: não é com você. A suave presença silenciosa dela dormindo enquanto ando pela casa. Tudo o que resta da sabedoria, ou porque toda sabedoria é resto. Hoje antes de abrir o livro vi um pedaço do céu vermelho pela janela. Quando nos falamos, sua voz estava triste ou cansada, não sei bem. Mais cedo eu li um bilhete de alguém me cobrando sobre qual é minha mensagem. Isso eu li em silêncio. Não sou um ventríloquo de doutrinador. Agora leio essas palavras de um livro amado, cicatrizes em fundo brancoluminoso, enquanto penso em outras coisas. Sei que continuo lendo porque meus lábios se movem no ritmo das palavras enquanto divago, alguém deve estar recebendo-as por mim.
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Escrevo loucamente para calar as conversinhas de mim comigo mesmo, alguém não sei quem fala comigo quando me desdobro interlocutores. As palavras, jogadas na tela ou no papel, são cicatrizes de um silêncio almejado.
3 comentários:
literatura é salvação?
uma bóia pra quem está vagando no meio de um oceano à noite debaixo de uma tempestade é uma salvação?
depende da bóia e do peso deste alguém.
e do que consideramos salvação.
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