A CICLOVIA
"— Meu caro, você conhece o terror que tenho de motos e carros.
(e dos pedestres)"
Um passante de
bicicleta
se destaca no horizonte.
Sua intenção é atingir a ciclovia perfeita.
Ele reclama:
— “A pista da ciclovia é inútil, ela termina, ela desemboca na rua”.
O ciclista sabe que precisa
passar pelos carros para atingir a
ciclovia.
O ciclista sabe que precisa
passar pelas motos para sair da
ciclovia.
Ele pedala altaneiro
por alguns minutos respira a sensação
enfim esse espaço.
O espaço da ciclovia se confunde com a calçada.
O pedestre flana.
O pedestre invade a
ciclovia.
Na superioridade de sua preferência
sua prioridade absoluta facilita o acidente [alguém adverte].
Manoel me disse que o carro deve manter a distancia de dois metros da
bicicleta.
Qual a distância que o pedestre deve manter da
bicicleta?
O pedestre vive seu estado de exceção.
O pedestre turista vive seu estado de imposição.
— Ele tem Razão! Isso não é uma razão, diz Michel.
—
[Outro dia Marília esbarrou com Deguy de bicicleta]
João quer pedalar continuamente mesmo não sendo um atleta.
Sem interrupções, de ponto a ponto, da esquina até Ipanema, até a Lagoa.
As pernas retraídas
esticam-se continuadamente.
Se esforçam formando
ondulações.
Elásticas
as pernas
na bicicleta
ondulam.
[Marília depois me contou]
Deguy saiu da
ciclovia
chegou na avenida de
bicicleta.
Naquele momento interrompido em que
caía.
Ridículo na lama.
Quando o poeta se estatelava no
chão.
4 comentários:
Intersecções
Cheio de círculos! Lindo, Masé!
No fim desta via há sempre o risco de um acidente?
a dificuldade da relação com o comum, comunidade, do ciclista... diria não no fim da via, mas durante todo o percurso. o fim do poema é o fim do percurso interrompido
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