9/20/2011

A ciclovia

A CICLOVIA

"— Meu caro, você conhece o terror que tenho de motos e carros.
(e dos pedestres)"

Um passante de
bicicleta
se destaca no horizonte.
Sua intenção é atingir a ciclovia perfeita.
Ele reclama:
— “A pista da ciclovia é inútil, ela termina, ela desemboca na rua”.

O ciclista sabe que precisa
passar pelos carros para atingir a
ciclovia.

O ciclista sabe que precisa
passar pelas motos para sair da
ciclovia.

Ele pedala altaneiro
por alguns minutos respira a sensação
enfim esse espaço.

O espaço da ciclovia se confunde com a calçada.
O pedestre flana.
O pedestre invade a
ciclovia.
Na superioridade de sua preferência
sua prioridade absoluta facilita o acidente [alguém adverte].

Manoel me disse que o carro deve manter a distancia de dois metros da
bicicleta.
Qual a distância que o pedestre deve manter da
bicicleta?

O pedestre vive seu estado de exceção.
O pedestre turista vive seu estado de imposição.
— Ele tem Razão! Isso não é uma razão, diz Michel.

[Outro dia Marília esbarrou com Deguy de bicicleta]

João quer pedalar continuamente mesmo não sendo um atleta.
Sem interrupções, de ponto a ponto, da esquina até Ipanema, até a Lagoa.

As pernas retraídas
esticam-se continuadamente.
Se esforçam formando
ondulações.

Elásticas
as pernas
na bicicleta
ondulam.

[Marília depois me contou]

Deguy saiu da
ciclovia
chegou na avenida de
bicicleta.

Naquele momento interrompido em que
caía.
Ridículo na lama.
Quando o poeta se estatelava no
chão.

4 comentários:

Daniel F disse...

Intersecções

Eliana Pougy disse...

Cheio de círculos! Lindo, Masé!

Aldemar Norek disse...

No fim desta via há sempre o risco de um acidente?

Anônimo disse...

a dificuldade da relação com o comum, comunidade, do ciclista... diria não no fim da via, mas durante todo o percurso. o fim do poema é o fim do percurso interrompido