O centro não existe,
amores
marginais arfam
convulsivamente
enquanto gemem orações
hard na penumbra de templos
com letreiros de neon O
menino
que olha pra você de
dentro
dos espelhos só escuta o
silêncio, décadas
de silêncio nos olhos
velhos
do menino que guarda
negativos
de tantos corpos e
gestos de comunhão
úmida e ardente pulsando
carne adentro, olhos
nômades que leram escrituras
de esperma sobre papiros
microirrigados
por sangue e linfa Sim,
você cobre
os espelhos com lençóis
tatuados por suor
e secreções, tocados
pela poesia das luzes
artificiais, mas isso
não cala o menino
que recita sutras
intermináveis: ‘santa
tereza
salvai-me desse mar
de
gozo e de melancolia que nunca ninguém vai
saber
o nome, são joão da cruz, acende
qualquer
lume que desencante o espelho’
O centro
não existe, mas o
holofote de outros
olhos lança você no
universo sem deus
onde flores sem caule
espreitam
na terra amiga o desejo
da seiva,
da casa, ao som do
cântico dos cânticos tangido pelos anjos
do inferno e da última
esperança O abismo da
orla desses olhos é um
dos orifícios por onde
você avança
Um comentário:
Aldemar, esse poema me lembra o Sutra do Girassol do Ginsberg, que obviamente todos aqui do LE já leram, mas que sempre é bom ler e reler.
E como o próprio Ginsberg citando William Blake: tudo o que vive é sagrado!
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