10/23/2006

Um texto jesuítico do século XVII


Este documento é, claramente, falso. Mas o que interessa
é que ele poderia ter sido escrito. Quem sabe ele não existe
mesmo? Guardado em gavetas a sete-chaves, no prelúdio
das orações de todos os dias? Além disso: é nestas horas que a
poesia dribla a história.

E eis porque o gentio não há de ser armado
Com armas de fogo, ou de rápida morte,
Daquelas fabricadas por cristãos,
A não ser que se convertam à fé verdadeira.
Não estando sob o império de nenhuma das leis,
A lei divina pela praga de Noé
Contra seu filho Cam, de escandalosa atitude,
De quem descendem os pretos destas terras.
A lei das sagradas escrituras
Por ignorância de livre alvitre,
Em se tratando de povos de grossa canalhice,
Não sabendo ouvir as palavras do Senhor.
A lei natural por perversidade da alma,
Quando homens desalmados devem andar desarmados,
Mal amados que são da vida em boa ordem,
Não discernindo a hora e a ocasião de bem matar.
A lei escrita das Repúblicas
Por viverem como andam e bem entendem,
Sem Rei, sem Império ou magistrados.

Quanto aos bons cristãos, homens de bem,
É mister que andem bem apetrechados,
Porque matando na ocasião propícia,
Fazem bom serviço e de muita fé.
Pelo que se põem consternados,
Mesmo que sabendo ser a boa morte preferível
À vida em pecado e ignorância,
E que os pagãos assim matados o são por culpa própria,
Porque as quatro leis ensinam que o bom homem
Deve guardar por sua propriedade,
Impondo a boa ordem e a fé verdadeira
Mesmo que a contragosto dos incréus,
Fazendo sua matança em bom serviço,
Boas almas e boas armas que são.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc tá falando do Bush é?