9/15/2008

descartes

a obscuridade das distinções
e dos princípios de que se servem
é a causa de alguns poderem
falar de todas as coisas
como se as soubessem
e de sustentarem o que dizem
contra os capazes e os mais sutis
sem que se tenham meios de os convencer

por isso
tornam-se comparáveis a um cego
que para lutar sem desvantagens
contra alguém que não é cego
levasse o adversário para o fundo
de um subterrâneo
muito escuro

4 comentários:

Daniel F disse...

Olá Aldemar

Gostei disso aí, você cortou e colou? Mexeu? Inventou?

ainda mais sendo Descartes, já que um dos termos-chave no neo-inutilismo é o "cartesiano". Um xingamento que serve pra tudo, que nem "neoliberal" ou "positivista". Xingamentos acadêmicos. Apenas superados pelo professor Roberto Romano que, numa campanha pra proibir o álcool no campus, xingava os alunos de "filhos de trasímaco" e recitava que "anus embriagarum non proprietarum est".

To pensando em trocadilhos infames como descartável, enfim, se o SS usou num conto dele pra parecer inteligente...

Quero ver se faço uma coisa assim com meu cartesiano favorito, o Spinoza, pra por aqui. Ou então com o La Boetie, já que a política maneirista, se bem entendi, tem a ver com a servidão voluntária.

Abraço!

Daniel.

Aldemar Norek disse...

Pois é, Daniel. As generalizações são em geral burras, e quase sempre andam de mãos dadas com a superficialidade e com a moda, mesmo na Academia, acho, pelo que vejo, de longe.

Cortei, mexi, e acho que inventei pouco - digo "acho" porque tem mais de dez anos isso aí. Me fascinei pelo raciocínio, e vi o potencial poético inserido nele, assim como o paralelo com a vida, que é sempre (ou quase) o que me interessa.

Spinosa é interessantíssimo. Faça sim, é um filão, acho. Assim como Pascal.

Quem é SS? Silviano Santiago?

Como assim, a política maneirista tem a ver com servidão voluntária? Não entendi....
abração.

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

olha, esse negócio da política maneirista foi um chute, vou ver se consigo justificar com o La Boetie, mas sei lá, acho que tem um idéia ali de que o Estado é barroco, ou pelo menos "neobarroco degenerado pleonástico".

quanto ao SS é o Sergio Santanna. é um conto que chama O Monstro que li com a turma numa aula aí. é uma entrevista com um professor de filosofia que sodomizou uma garota, naquele estilo Da(n)te(n)esco. Ocorre que numa hora lá no conto ele brinca com citações de Descartes e pra facilitar pro leitor mete um "descartável" na frase.

Ainda gosto do conto, mas uma aluna me disse que achou o conto canastrão. Não consegui discordar dela, e até achei engraçado, porque me lembrei de coisas do Café. Mas, e isso não escondi dela: o conto é sobre professor de filosofia, e professores em geral são canastrões (eu, por exemplo, sou totalmente canastrão na sala), bem como o Datena é um tipo canastrão, e por fim os escritores são também canastrões.

Quem não é canastrão? Sei que to viajando na maionese, mas isso também deve ter a ver com o maneirismo.


Abração,

Daniel.

Aldemar Norek disse...

Oi, Daniel.
sobre maneirismo: penso que foi um estágio onde se duvidou de todos os valores, onde até a arte foi questionada (pela primeira vez, acho) e mergulhada na crítica, dentro da obra. Nenhum absoluto. Nenhum valor absoluto.Nenhuma simplificação. Matéria e espírito em divergência. Talvez aí a "servidão voluntária" tenha sentido, e não apenas em política (mesmo que em sentido amplo) uma vez que qualquer política (no mesmo sentido) não passa de subproduto.
Neste sentido todos os maneirsitas são canastrões, porque fingem, afetam a 'maneira'. Daí, talvez, sejamos maneiristas......rs, porque não passamos de canastrões dublando poetas.
grande abraço!!!