9/29/2008

nº 84








Nenhum amor pela cidade, muito
pelo contrário, rancores
cuidadosamente cultivados como
flores, feridas
expostas ao mesmo ar que alisa
a superfície de tudo, contínua,
como se a beijasse, ar
que nunca ampara ainda que envolva
gelado ou turvo, tanto faz, neste mundo
estreito – você formula
absurdos como erguer paredes contra o ar
tornado vento quando imagina
ele trazendo mensagens do passado em forma
de lâminas ferozes, mas lembra
que paredes são memória
dura; formula então
torná-las labirinto, emaranhado
onde se possa encapsular
esta brisa que lhe arranha
a pele, e pensa mais, grafites
que apontem vertigens onde perder
o corpo,
grafites por toda a superfície
alçada contra o ar, pura
vertigem, nenhum
amor pela cidade, nenhuma cidade
possível.




(das "Notas Marginais")

Nenhum comentário: