9/14/2008

Uma fábula

O mundo é um jovem
Desajustado, precoce
E ao mesmo tempo
Um velho imaturo e ao
Mesmo tempo uma garota
Que passa os dias
Trancada numa biblioteca,
Não gosta, não tem, não quer ter
Amigos, a tola esclarecida.

A vida é uma senhora lúcida
E rebelde, por tudo,
Quase nada, qualquer coisa,
Um êmbolo e ela se sente
Sufocada, a vida sofre
De mania de perseguição.

A vida enterra sementes
Com raiva e brotam
Folhas verdes e ruidosas que dizem não
Dizem sim, dizem sim ao não,
Dizem não à liberdade, dizem sim
Ao libertário, dizem não ao anarquismo,
Dizem sim a tudo o que é anárquico &
Da terra revol
vida e revoltada
Brotam frutas selvagens
Pequenas feras doces e coloridas


O tempo, por sua vez, está grávido
De anacronismos. É um jogo,
Mortal, de crianças.

Mas as crianças não, estas
São insatisfeitas,
As crianças querem os cães
Domesticados, as crianças são pacientes
Quando o assunto é a ordem
Visível, evidente:

As crianças fabricam
Usando seus próprios corpos como engrenagens
Um imenso boneco, cheio de balas
Não, cheio de porretes &
Relógios & tesouras de jardinagem, mas
Esse boneco é um tirano
Vazio, chamado Oito-Olhos.

E ninguém sabe, ou finge não saber,
Num faz-de-conta, como o oco
Pode ser assassino, de onde vem
O pequeno
Poder de matar se
O boneco é um morto, mas
À sua sombra
As crianças dormem
Tranqüilas e livres
Do mundo, da vida e do tempo.


Moral da história: é de meter medo.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Também acho assustador, Daniel.
É um jogo estranho, antigo mas ainda estranho.
Estou lendo sobre o Maneirismo, e as crises que o geraram, e tenho achado em tudo parecido com o panorama das últimas décadas.
abraço.

p.s. isto posto, creio que o Lalo Svoboda vai cunhar o neomaneirismo como sucessor do proto-contemporâneo que já sucedeu ao neorococó. Todos são irmãos de sangue do neo-inutilismo, claro.