7/25/2010

bug

lá fora amores à última vista atravessam
a cidade e fica difícil se concentrar na conversa
porque 2 ou 3 os idiotas (você ainda está
na dúvida se incluir a si mesmo é mais
realista) na sua mesa exibem sorrisos
frenéticos, trapos
com etiquetas Richard's, olhares calculados e fé
nos seus salários do banco federal
de desenvolvimento e na migração
de capitais até mercados atraentes

eles insistem nos seus sorrisos de filme
B quando dizem que encontrar a mulher
ideal é difícil mas sua procura é uma delícia,
eles parecem acreditar que isto é
a felicidade, a sua cota de transcendência
nos mercados da vida, aqui é um bar
irlandês numa ladeira da Lapa e o mundo
todo exala toneladas de imagens
falsas sobre você neste exato momento

em que a trilha sonora liquidifica sangue,
glitter, as dez mais e um blues antigo
e rascante que se desloca para o fundo
mais escuro do corpoe quem, como
você, olha para a rua, quem como
você não acredita, quem
se pergunta porque este chão pisado
por Madame Satã, este chão entranhado
de sereno e mágoa, este alguém
desconfia que os amparos do sentido
andam rodando como um carrossel
em marcha à ré com engrenagens gastas

os inocentes de Manhatan não sabem
de Madame Satã, vão precisar consultar
o índex da academia em que uma sombra
dele pode morar, onde outras sombras se movem
no estilo touch screen, mas a caverna
ninguém sabe se existe – os dois
que sorriem existem e estão
a fim de levar pra cama o seu amor
à última vista, ela pode ser a mulher
da suas vidas, ela pode ser uma noite
extensa, uma noite longa e profunda
que atormentará seus dias, ela poderá
ser um slide fantasmático na ruína
de seus futuros ocos e amparados pelo banco
de desenvolvimento, poderá ser o delírio
da carne, ter pernas mágicas, boca
de prodígios, pele ardente, poderá ser
o esquecimento, ser a chave, o labirinto,
ela está ao seu lado e aparenta não
saber, aparenta não sentir como pulsa
o coração do sentido, como pulsa
o desejo por cima das pedras
do pavimento, como seu corpo quer
atirar-se sobre ela buscando o que está
além, amparado só pelos sentidos,
amparado e só

nem eles, nem ela, nem você
sabem onde vão levar todos os desvios
desta noite.

2 comentários:

fabio disse...

Muito bom...me senti sentado à mesa com pessoas que acabei de conhecer.

Aldemar Norek disse...

Oi, Fábio.
O clima é este mesmo.
E de surpresa, porque ninguém sabe o que pode acontecer.
Valeu pelo comentário!
Abraço,
aldemar