7/18/2010

domingo, mesmo

ela anda assistindo o mesmo programa de domingo
que se repete vinte anos:
tomei uma coristina, mas não consegui sintetizar aquilo
que o tempo tem de ácido, nem descobrir
com o que sonham as meninas que só são inocentes
quando sonham, seria melhor
ser um bárbaro de botequim, um rebelde
no restaurante arrotando na frente
de senhoras escandalizadas, seria
bem mais confortável acreditar que a margem
é mais confortável , e mijar
na frente da platéia o ácido que o sangue arranca
do tempo, seria melhor
acreditar na minha falta de fé,
nos desertos pós-estruralistas
que a menina da academia tentou
me descrever numa carta antiga, a menina
da academia está ao mesmo tempo conformada
e desesperada e pagaria
seis das suas sete vidas por onze
minutos de sentido, esta menina
dormiria com Godzilla, venderia
o que lhe sobrou da alma depois
que se rendeu ao método e desaprendeu
a escrita com o corpo, depois que perdeu
o último bonde para o campo
minado e bate palmas
frenéticas para a acrobacia de um cara que ainda acredita
nas palavras, que ouviu a resposta
sem saber a pergunta, ela mente
pra mim e é por isso que somos
iguais, ela pagaria qualquer coisa, faria em público
aquilo que lhe incendeia o centro
sem centro do seu corpo, mas o mundo
não vai se abrir de novo
nunca mais.

3 comentários:

Aldemar Norek disse...

Galera,
depois de um longo e tenebroso - não se se mais longo ou mais tenebroso - estou de volta, espero. Aqui me tens de regresso.
Vou tentar pagar os aluguéis atrasados.
Abraços pra todos!
aldemar

Daniel F disse...

Voltou com tudo! Muito bom. Só não
sei quanto à parte do arroto, ainda existem senhoras que se escandalizam com isso? ou é uma ironia mesmo?
do tipo: "rebeldia é cagar na pia"...rs

Abraço,

Aldemar Norek disse...

Daniel,

quem acha que arrotar em público escandaliza as senhoras é o Bortolotto.
Apesar de gostar de algumas coisas dele, fiz uma ironia com ele, certa postura neo-bukowski-fake.

ia falar sobre o fim do escândalo, mas deixei pra outro poema.

depois te mando o poema em que ele fala do 'arrotar na frente das senhoras'.

Abração, bróder!