8/14/2010

A VIVO E A PASSO MORTO















                                                     A Carlos Vallejo

        Eis que hoje te saúdo ó mar e punho imensos!
Que pus-me inteiro o corpo à troça e à violência! Virão neste
verde e douradas campinas de fogo mostrar-me as ancas e
as coxas da América morta!

3 3 3 séculos de minha raça
que não sei de onde veio
se mestiço, escravo, mentor ou feitor
se a cara à tapa bati, fui batido, cuspido e violentado!

Estou rindo, e com sede de pátrias juntas
no mesmo esforço de patas
e bosta, e minas, sujeiras de carvão nas mãos
e na alma, ouros comprados a metralhas e punhais

Se estamos descalços
frente a frente com a morte
Donzela primeira de espalmado orvalho

3 séculos de minhas dores
3 3 3 que traz estampado
pelos cobres um peito materno
que nunca soube ser fêmea ardente

Sim, amigo e irmão,
nossos verbos e ossos estão encharcados
de horror pela nossa América, sem
Esperança,
empobrecido, petiço baio, sombra algures
numa árvore remota.

Todos nós falhamos contigo, irmão e amigo.

3
3
3 séculos de minha raça.



(Anderson Dantas – Ilha de SC, inverno com sol)

2 comentários:

Aldemar Norek disse...

Grande Anderson,
bem vindo ao lar.

Desapareça menos....
Abraço!

Anderson Dantas disse...

A vida profissional é corrida, amigo. E todos nós falhamos com Carlos Vallejo. Em breve mais considerações no Álbum Zútico.