Alice olha
sua alma indo pelo ralo como água suja
Atravessa
a sala na
diagonal sonhando com os cacos de uma consciência
estilhaçada
iluminando a aproximação do nada O acontecimento
perde-se pra
sempre enquanto Alice ingere 1% de veneno
em cada
palavra do poema infinito que recita enquanto olha
sua alma
indo pelo ralo como água suja e
atravessa a sala
na diagonal
fazendo da repetição o seu discurso particular
do método
infinitesimal pra se reconhecer na vida olhando
a alma indo
pelo ralo como água suja ao som do sangue
em câmara
lenta pelas veias na vertigem de uma dança
benzodiazepínica
regada a álcool e silêncio no caleidoscópio
estilo pole dancing do seu inferninho tosco
recitando um credo
incompreensível
e em tempo real atravessando o quarto
na diagonal pensando
na repetição como talvez o último
recurso que se
pode às vezes lançar mão pra segurar a alma indo
pelo ralo
como água suja enquanto atravessa a sala na diagonal
fazendo da
repetição a arma cuja munição são cacos de uma
consciência
vilipendiada A violência sempre há de chegar com toques
de
delicadeza e Alice se equilibra sobre o arame que atravessa
a sala na
diagonal olhando sua alma indo pelo ralo como água
indo ao cume do arame sobre o picadeiro e uma plateia de tacos
gritando ‘pula’ mesmo enxergando a inimaginável
altura
de seus
sonhos e a rede inconsistente Alice olha sua alma indo
pelo ralo
como água brusca e quer saltar quer se soltar mas
prende-se ao
arame que é uma diagonal marcada no vazio
cuidadosamente
entre os abismos de todas as frestas
que são
leitos onde o corpo já não sente mais as sombras
que dissolvem
a luz nesse presente assim sem espessura
enquanto
Alice adiciona 1 grama do princípio ativo em cada palavra
do poema
indo pelo ralo pelo sangue adentro pelas veias
pra
inscrever no corpo uma camada ácida uma charada falsa
uma verdade
brusca antes do salto mas Alice espreme
em suas mãos
a massa informe de um presente espesso
e sente
entre seus dedos uma gosma fina que lhe escorre
e escapa
carregando o último sentido como escapa a alma indo
pelo ralo
como água suja saturada de veneno e espanto
3 comentários:
Uau. Amei isso.
também gostei demais, Aldemar. essa série sobre Alice vai entrar na Notas Marginais, quando elas forem publicadas?
Obrigado, Eliana.
Valeu, Daniel... Não, é uma outra série, não sei onde vai parar.
As Notas Marginais estão, pelo que sei (mas adianto que sei muito pouco sobre qualquer coisa...) encerradas.
Alice, penso que estes poemas discutem outra coisa bem diferente. Ou seja: a mesma coisa.
Abração!
Vou cobrar sua promessa de escrever algo sobre as Notas, Daniel, pra quando um dia eu resolver publicar isso... Ou seja: talvez nunca.
ahahahaha
Abração!
- acabo de me lembrar de um pensamento que gosto muito - e vc vai entender porque: "Escrevo para apagar o meu nome." :)
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