5/22/2012

desvio para o vermelho, 5






Alice olha sua alma indo pelo ralo como água suja  Atravessa
a sala na diagonal sonhando com os cacos de uma consciência
estilhaçada iluminando a aproximação do nada O acontecimento
perde-se pra sempre enquanto Alice ingere 1% de veneno
em cada palavra do poema infinito que recita enquanto olha
sua alma indo pelo ralo como água suja  e atravessa a sala
na diagonal fazendo da repetição o seu discurso particular
do método infinitesimal pra se reconhecer na vida olhando
a alma indo pelo ralo como água suja ao som do sangue
em câmara lenta pelas veias na vertigem de uma dança
benzodiazepínica regada a álcool e silêncio no caleidoscópio
estilo pole dancing do seu inferninho tosco recitando um credo
incompreensível e em tempo real atravessando o quarto
na diagonal pensando na repetição como talvez o último
recurso que se pode às vezes lançar mão pra segurar a alma indo
pelo ralo como água suja enquanto atravessa a sala na diagonal
fazendo da repetição a arma cuja munição são cacos de uma
consciência vilipendiada A violência sempre há de chegar com toques
de delicadeza e Alice se equilibra sobre o arame que atravessa
a sala na diagonal olhando sua alma indo pelo ralo como água
indo  ao cume do arame sobre o picadeiro e uma plateia de tacos
gritando ‘pula’ mesmo enxergando a inimaginável altura
de seus sonhos e a rede inconsistente Alice olha sua alma indo
pelo ralo como água brusca e quer saltar quer se soltar mas
prende-se ao arame que é uma diagonal marcada no vazio
cuidadosamente entre os abismos de todas as frestas
que são leitos onde o corpo já não sente mais as sombras
que dissolvem a luz nesse presente assim sem espessura
enquanto Alice adiciona 1 grama do princípio ativo em cada palavra
do poema indo pelo ralo pelo sangue adentro pelas veias
pra inscrever no corpo uma camada ácida uma charada falsa
uma verdade brusca antes do salto mas Alice espreme
em suas mãos a massa informe de um presente espesso
e sente entre seus dedos uma gosma fina que lhe escorre
e escapa carregando o último sentido como escapa a alma indo
pelo ralo como água suja saturada de veneno e espanto

3 comentários:

Eliana Pougy disse...

Uau. Amei isso.

Daniel F disse...

também gostei demais, Aldemar. essa série sobre Alice vai entrar na Notas Marginais, quando elas forem publicadas?

Aldemar Norek disse...

Obrigado, Eliana.

Valeu, Daniel... Não, é uma outra série, não sei onde vai parar.
As Notas Marginais estão, pelo que sei (mas adianto que sei muito pouco sobre qualquer coisa...) encerradas.

Alice, penso que estes poemas discutem outra coisa bem diferente. Ou seja: a mesma coisa.

Abração!
Vou cobrar sua promessa de escrever algo sobre as Notas, Daniel, pra quando um dia eu resolver publicar isso... Ou seja: talvez nunca.

ahahahaha
Abração!

- acabo de me lembrar de um pensamento que gosto muito - e vc vai entender porque: "Escrevo para apagar o meu nome." :)