10/19/2006

Fissura


É uma calçada estreita
e mal iluminada,
um corredor escuro
entre duas jaulas imensas.
Como a cerca não é firme,
o arame é carcomido,
estou exposto à sanha
do tigre e do chacal.
Cada fera me ataca
de um lado,
na vertigem do corredor polonês.
Numa noite como esta
de nada valem meus olhos
infra-vermelhos,
aqui meu sangue é muito espesso,
perseguido pelos bafos quentes de carniça
encurralado pelos dentes

sem descanso

resolvo tomar um café.

Ela está sentada à minha frente
e fala mal da cidade,
do país, do continente.
Ela me olha, eu a observo,
por algum tempo nos medimos
à beira de uma galáxia congelada
no milésimo de segundo anterior
à desintegração final.
Eu penso numa música qualquer
kiss me to build a dream on
eu e ela estamos sentados
à beira da beira
da beira da beira da beira da

Fissura atômica.

4 comentários:

Eliana Pougy disse...

Adoro sua escrita.

Masé Lemos disse...

lindo, gostei da virada do café, ela sentada e fala mal...

Masé Lemos disse...

lindo, gostei da virada do café, ela sentada e fala mal...

Aldemar Norek disse...

endosso e assino embaixo. na beira da beira da beira.