10/10/2006

Língua Epistolar


Quando você era um deus: gestos, atitudes, o modo de andar e de olhar, indicavam as coisas em sua presença. Você não falava, não era necessário, pois tinha o dom da imortalidade das bestas-feras. Vivia sob o espanto constante das tempestades em cavernas e achava que todas as coisas estavam cheias de deuses.

Quando você era um herói: gigante brotado como semente da terra, guardava para si (excluindo disso as bestas-feras animalizadas no arado com os olhos voltados para o chão) o segredo das similitudes. Falava de um escudo com desenhos de cidades, pessoas e animais, navios e guerreiros, rios, desertos e oceanos, quando queria descrever sua cidade repleta de pessoas, animais, navios e guerreiros.

Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. Língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?

3 comentários:

Anônimo disse...

Quando o Acaso se distrai, o imprevisto pode acontecer, às vezes sob a forma de um encontro, de encontros, desafiando o senso comum e as expectativas estabelecidas. Encontrar pode até doer. Ou fazer crescer.
Nós, os vulgares, seguimos em frente, no encontro e no desencontro, ou retirando um de dentro do outro.

Anônimo disse...

vulgar no lugar, em. ou in. in-vulgar sob. quem? como? mas, quem sabe se?

Aldemar Norek disse...

o primeiro anônimo sou eu, Aldemar, pq errei (mais uma vez...), desta vez na postagem, sem estar blogado.
abs