2/23/2008

Outros Janeiros (modificado)

1.

O vapor subia dos paralelepípedos
Rumo à capital na ambulância
Com o velocímetro estragado
Sobre a estrada verde-enxofre –

O médico apenas queria
Ser curtido na novela com a família
Tudo menos
Receitar infecção urinária

2.
Na pracinha, sempre
Um jegue morria

Com nó nas tripas após comer um saco plástico brilhante.

Vestígios da passagem
da União Intergalática Revolucionária dos Estudantes

Pousadistas

3.
Na casa amarela
Varanda de tubos de PVC
O velho morria outro dia

A família apostava em mera indigestão
Causada por siris no lugar do enfarto

(Todo homem de bem
Deve andar armado)

4.
Na praça central, entre os carros produtores do barulho
Anunciando a alegria
Desesperada naquele sítio
Um casal se esfregava
Lambuzava no capô nupcial

Ai! quero despencar
Do céu
Diretinho nos teus
Braços (armies)

4.1 Ao consultor de desastres
A menina, indefesa lágrima
Caindo sobre os lábios pedia

  • Um conselho.

O ex-namorado tocava sua música de amor para a atuação pornomobilística na Outra.

O sábio da filosofia a golpes de martelo
De quebrar caranguejos
Quase vomitava-lhe o capeta
(era daquele tipo quente)

- Da próxima vez escolha uma canção melhor
E pare de quebrar estes espelhos,
No verão você caminha sem sapatos.

5.

O tema do colóquio era

Como driblar os 6 fantasmas do medo

Ou a herança

Dilapidada

Do Barão de Abadia

E sua fazenda jamais percorrida

Por qualquer alma viva

Ou porque é melhor

Tomar cerveja no canudinho

Ou como segurar

O poder na unha e não

Se perder, afinal, poetas da corte

O poder tem que falar

Ou porque, fazendo as contas

Tudo não deu em nada

Interrompido por revólver prateado


4 comentários:

Aldemar Norek disse...

às vezes fico perdido entre tantos inputs,tantas referências. Gosto muito de vários trechos ("o sábio da filosofia a golpes de martelo, etc"// pare de quebrar o espelhos, no verão você caminha sem sapatos"//"atuação pornomobilistica na Outra"//etc), e também das "intervenções" mais que prosaicas, banalizantes, do capô nupcial (certo tom Dalton Trevisan na frase de depois?), da varanda de tubos de pvc, siris, caranguejos e outros babados. Mas não consigo formar uma visão do todo. Ou é esta a idéia?
abração!

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

bem, então o poema deve mesmo precisar de uma revisão. não sei como seria essa visão do todo; mas seria mais ou menos uma "paisagem" formada por pequenos quadros. talvez o excesso de imagens prejudique o resultado. vou pensar.


Abraço!

Daniel.

Aldemar Norek disse...

pois é.
aqui entra tvz um (mais ou menos) conceito do poema como um bloco, uma unidade - o que não é nem deve ser uma coisa absoluta. Mas acabo sempre pensando numpoema como um todo bem amarrado e "fechado" em si, circular -o que limita as entradas, ou esta visão (interessante) de percurso, como numa galeria. A lógica da exposição estaria na apreensão do "comum" entre os quadros.
Dá pra pensar.
abração

Anônimo disse...

Caro Daniel,

Quem é este Barão de quem fala?