2/10/2008

uns tragos com Rimbaud




Vou para um mundo negro
feito um cego
procuro meu degredo
busco sinais pelo século
filosofias sistemas sofismas
cismas
tudo é quase secreto
sob o véu de um céu aberto
chaga
vou pra esse mundo e nego
seu fundamento
sou secamente guiado
pelo momento
sinal aberto
e nem assim desperto
do sonho:
PRIVADO DA MEMÓRIA ESTOU FELIZ

3 comentários:

Daniel F disse...

Muito bonito Aldemar,

gostei das cismas. nas aulinhas de história tem aquele papo sobre o Grande Cisma, a grande ruptura né? Como disso se chega ao ando cismado é o movimento do poema? Ou o caminho inverso.

Amo duas filosofias: a de Niezstche (aliás, quanta bobagem escrita pelo Affonso Romano, de onde ele tirou aquilo?) e a do Spinoza. O resto é nota de rodapé. Um livro lindo do Spinoza é a Ética, ali o cartesianismo se enlouquece, pira de uma vez, uma coisa que ele diz é: tudo o que aumenta a potência de ser e existir é Alegria. Isso é fogo porque o que nos oferecem no Cardápio como alegria é outra coisa: anestésicos.


Abraço,

Daniel.

Aldemar Norek disse...

este poema tem mais de 10 anos, Daniel.
Coloquei ele aqui por conta do nosso papo sobre passado x presente absoluto, o que remete à questão da memória (pessoal, coletiva).
Acho que o que o poema quer dizer é a impossobilidade do sonho (que às vezes se percebe numa espécie de "transe, ou seja, um sonho dentro de outro sonho) e sobre procurar o sentido mesmo nos mundos negros, onde -teoricamente- não seria possivel encontrar nada, nem produzir sentido, mas onde a poesia (como em Rimbaud) às vezes mostra a cara (no caso dele, que cara!!!).

Aldemar Norek disse...

estava relendo agora, rolam umas oposições entre memória e sonho, estar cego e perceber o mundo negro, negar e ir, sinal aberto e não ir, etc.
E o alinhamento entre felicidade e esquecimento.
Engraçado não desgostar exatamente de um poema quase 15 anos depois de escrever.
abraços