2/07/2008

SANGRANDO toda palavra sã





Aos Epistolares

William Burroughs, in Naked lunch



Íris, meio chinesa e meio negra – viciada em diidroxi-heroína –, toma um pico a cada quinze minutos, para cujo fim deixa êmbolos e agulhas espetadas pelo corpo todo. As agulhas enferrujam em sua carne seca, que cresce aqui e ali, cobrindo a coisa completamente e formando um quisto liso, verde-marrom. Na mesa à sua frente, está um samovar de chá e um tablete de dez quilos de açúcar mascavo. Ninguém jamais a viu comer nada além disso. Só pouco antes de um pico ela consegue ouvir o que alguém diz ou o que ela mesma fala. Então, faz alguma declaração simples e factual a respeito de si mesma.
- Meu cu está se fechando.
- Minha boceta está cheia de uma gosma verde horrível.
Íris é um dos projetos de Benway. – O corpo humano pode funcionar só com açúcar, porra ... Sei que alguns de meus cultos colegas estão tentando depreciar meu trabalho de gênio, acusam-me de pôr vitaminas e proteínas no açúcar de Íris clandestinamente ... Eu desafio esses cus sem nome a engatinhar fora de suas latrinas e fazer uma análise detalhada do açúcar de Íris e do chá. Íris é uma saudável boceta americana. Nego categoricamente que ela se nutra de sêmen. E deixem-me aproveitar a oportunidade para declarar que sou um cientista reputado, não um charlatão, um lunático ou um falso milagreiro ... Nunca pretendi que Íris pudesse subsistir exclusivamente por fotossíntese ... Não disse que ela poderia respirar dióxido de carbono e expirar oxigênio. Confesso que estive tentando a experimentar, sendo naturalmente contido por minha ética médica ... Em síntese, as vis injúrias de meus nojentos adversários cairão sobre eles inevitavelmente, e virão empoleirar-se como um pombo chamariz de volta ao lar.

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