4/09/2008

back-light, 2008 d.C. (um poema definitivamente antigo...)




você parece pensar que
é pergaminho este pedaço de pele
do meu braço,um pouco abaixo
do ombro: seria
lindo este gesto 20 anos atrás, nem
é exato assim, talvez 19, 18 ou pouco menos, só sei
que a vida percorria trilhas de vinil
e às vezes dava saltos, definitivamente
arranhada e tão
fundo que
não se podia mais juntar as duas
partes da melodia, daí porque
não te contei, mas fui à luta
depois que abandonei num papel sobre a mesa em letras garrafais
a palavra PARAÍSO (quanta escrita
líquida sob os tecidos),
e minha única arma era
um coração turvo, turbilhonado, deixa
pra lá, também nunca falei
da urgência quando saí rasgando tudo
por dentro vendo o tempo esgarçar
as arestas das coisas e encher
de pó os cantos da casa, e destes
dois corações que você riscou em minha pele tão
filigranados em suas curvas
que nenhuma geometria captura, um branco,
outro negro, um cheio, outro
vazio, como se um a luz e o outro
a treva, não vou dizer nem morto
qual dos dois é
o meu (seria
o coração uma cicatriz que pulsa
no corpo, ou é somente através destes
sulcos que a mão decalca
sobre a folha
branca, quando a vida pesa mais,
que ele bate?
).

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