11/02/2007

nº 45




Você segue conectado e traz na agenda
ou nos bolsos 5 ou 6
telefones colhidos ao acaso, no mesmo passo
com que arrancaria flores de canteiros. Atrás
de cada número caminha um corpo que só quer afundar
no próprio espanto,
depois que a chave da língua desenhar códigos de acesso
úmidos
no pergaminho da pele até chegar à orla
do abismo
onde se verte uma primavera líquida
sobre si mesma, sempre
sobre si mesma, no vazio
de qualquer promessa. Não há como dizer isso, tudo
se precipita, mesmo que além dos limites
da pele, em um sobrevoar
de corpos estendidos, a memória devastada se arvore
na guarda do silêncio. Depois, os trens
que rasgam os subúrbios entre silvos
aportam numa estação
de sombras, carregados
de outros dias
amputados, no bojo reluzente
dos vagões.


(das Notas Marginais)




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