11/10/2007

Novo Pequeno Dicionário das Aproximações

Calar (vb.)
É o melhor que você pode fazer em qualquer situação. Quase ninguém pratica esta arte: uns falam desbragadamente até a ruína entregando seu ouro sem exigir sequer uns cobres de troco, outros escrevem poemas e ainda há os que fazem dicionários. Mas como não faltam malucos no mundo, poderíamos listar incontáveis formas de não calar, todas insensatas.

Dinheiro (s.m.)
É o deus mais cultuado pela humanidade, por mais de uma cabeça. Em segundo lugar, embolados na segunda raia, vêm Deus mesmo, Alah, Buda e outras ficções, como o Tao. Seu poder de arrebanhar fiéis é tão grande que muitos dos pretensos fiéis dos outros deuses cultuam na verdade apenas o Dinheiro que, num lance impressionantemente sutil de astúcia, coloca-se como uma dádiva dos outros, sob o codinome “Prosperidade”. Os mais descolados nas outras religiões admitem uma “energia” por trás do Dinheiro. Como Ele foi uma invenção da humanidade (ou terá sido o contrário, na medida em que esta serve àquele?) são grandes as possibilidades de que os outros deuses não passem também de invenções, embora algumas pessoas insistam que já falaram com eles – sem bem que fala-se até com as paredes, que até hoje também nunca responderam. Mas quem fala mais alto aos corações humanos é o Dinheiro mesmo e por Ele são cometidos todos os tipos de ato, dos mais puros aos mais vis. Faça a sua aposta, se bem que aposta é outra onda.

Pequeno (adj.)
Diz-se das coisas que são menores que outras a partir de quem julga, ou da escala que se estabelece. Assim sendo, é um conceito em tudo relativo. As coisas absolutas também são relativas. Muitas coisas podem ser pequenas – como, por exemplo, você por dentro.

Tragédia (s.f.)
É o grito do bode durante o sacrifício. O sacrifício é inevitável, incontornável e às vezes iminente. O que varia é a potência do bode ao berrar e sua ânsia de criar sentido. Sentido é outra miragem.

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