12/19/2006

Apocalíptica

tudo é o contrário
do que se espera
pode ser
que se dê o contrário
a quem o disse.
- Daniel Farias
concentre-se, deixe de tagarelice
(satisfissura, filosofice)
o que vem ao caso
é o capuccino Cavazzi
e o papo inicial deve ser recordação de um escândalo
a descoberta de que os pés descalços
franciscanos
foram o terror da África
os mais cruéis e duros missionários
os mais violentos
apocalipticamente corretos
no extremo da humildade:
mortificação, proliferação de carimbos.
(não, não escrevo um libelo antifranciscano, trata-se apenas de uma situação infeliz, nada a ver com São Francisco de Assis e a rima involuntária não nega que recaio no mais prosaico, mas nem que seja desta entrelinha me livro:
“umbigo sou baguncei ô que cegueira!”
a vida no mar não tolera ambigüidade
e o que digo assino embaixo)
o capuccino Cavazzi é cheio de episódios
em Matamba e Angola
epos – ódio, quando
dizia: valhacouto de escorpiões
antro de pestilências e o barulho
desta música que de tão desafinada lembra uma assembléia
de demônios
onde o capeta é santo
São Capeta
terra dos insetos articulados, das múltiplas patas
assassinas, Nzinga ao sol vermelho,
e relatava o embate com o nganga
que segurava numa boa o ferro em brasa
e afirmou, isso é fácil para um missionário
império das virtudes
e segurou o ferro e sentiu a queimadura
o frigir da pele (mas “ímpios” olhando)
e deus (quem mais seria?)
lhe deu força para fingir
que nada sentia
e o missionário é um fingidor etc e tal.
o capuccino Cavazzi jamais caiu na real
parodiando OA ou SF ou FN
foi o real quem caiu em Cavazzi –
e não temos pena dele por isso.

falando nisso outro dia
sincronia misteriosa
alguém que se chamava Apocalíptica
telefonou para mim
procurando por Daniel Farias:
- alô!
Daniel Farias? não, absolutamente. ou Daniel Faria,
é, não falo do morto poeta português,
é aquele monge não sou aquele, mas simpatizo,
queria ser manso como ele,
ou Daniel F, sugestão de queridos amigos EP e FV,
é, não uso pseudônimos, detesto.
o quê?
não, a Giovana discorda.
hein? persona?
só se fosse o Príncipe Michkin
ou o pai dos irmãos Karamazov de uma vez por todas.
mesmo assim você prefere o Farias?
não aqui não, ele é o Império da Virtude,
AgitProp, essas coisas de missionário,
niilismo e ressentimento de pseudônimo
é, sei que são vários
Fiscal de Chat Literário, bela profissão
de fé para anarquistas.
oi? desculpe, estava pensando que Muntu
é palavra intraduzível.
ãh?
foi engano?
ledo engano (pensei)
o que me faz pensar
aliás não me faz pensar em mais nada
este “poema” encheu o saco.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

gostei da não linearidade, Daniel, a linha sinuosa que abarca várias coisas, como uma conversa, um poema no fundo é um papo que você bate com quem lê, qdo alguém lê. Senaõ bate consigo mesmo, e isso já é uma grande coisa.
gostei tbm da negação do poema por si mesmo no final, a dúvida.