12/20/2006

Festa

Longe, tudo late atitude.
Perto, a moça atende a quem liga por "amor".

Estivemos falando com o tique a vibrar,
Chamando pós reconhecê-lo, tal qual em
Cidade do interior.

Os quatro cantos do mundo
Cada odor distancia à minha volta.
Seus golpes sobre a intimidade
Esfacelam, implacáveis!

Mas retornei, e me saúdam todos
Como se minha cara germinasse na internet.
O nariz de qualquer meu amigo
Estaca, voltado em sentido diverso:
Girassóis de vento.

Percebo o que quero, seus olhos fixos
Também, e a cavalgada de reflexos inteiros
Dos risos, soando no fundo do entanto
A vidro partido. Ainda bem que há música
Pra cerzir ao ar tantos gestos.
Volta e meia rosna a faísca da agulha:

Me sentaram junto à única lata de lixo.

5 comentários:

Daniel F disse...

Pô Lois,
não sei se foi essa a motivação, mas seu poema tem tudo o que aconteceu nesse ano - assim o leio. Festa é mesmo hora de revisão, releitura. Se a intimidade falha, a música salva!! Grande abraço.

Eliana Pougy disse...

Isso ficou muito legal. Adorei.

Eliana Pougy disse...

Mais: essa sensação de desconforto foi tudo o que eu senti há pouco tempo. Doeu no corpo, até. Só que não tinha ninguém com quem me conectar. Solidão total.

Aldemar Norek disse...

O desconforto é patente no poema. Tvz porque nenhuma ciência abarque a vida, que é o vidro partido.

Haemocytometer Metzengerstein disse...

Muito obrigado, pessoal!
Daniel, agora com o que você falou vejo o poema de outra forma ainda. Realmente, é como uma retrospectiva!
Norek, esse teu comentário é perfeito, e ecoa Bergson pra cacete - a ciência vem da inteligência, que encontra como objeto ideal a matéria inerte, formulando leis cujo tempo ideal é a eternidade. Não consegue lidar com o vivo, por outro lado, que depende do contingente, da errância e do imprevisto, que só no fluxo do tempo tem lugar :)