12/29/2006

crítica viva voz aos contributors do LE

não vou dar nome
aos nomes

não vou subir num pedestal
não vou descer o nível

é deixar o fluxo
prosseguir a maciez
de suas ondas

invadindo ruas, becos
bocas e cabeleiras

é deixar a dureza,
crueldade
tomar de sopro
novamente o silêncio

não, não vou ligar
o viva voz
de minha crua luz

o ano vem, se aproxima
e apenas 35% dessas
pessoas acredita nisso

e para quem não acredita em nada?
quando se queimam pessoas vivas
quando se furam, baleiam
as pessoas mortas

mortas, já mortas

não temos armas

e sobrevivemos pela beleza

ou pelo silêncio.

não, não
sempre há de ter um filete

uma réstia

aí, estará nosso nome.
poema insone

carne viva e na mal-soçobrada

esperança.

(calar-me, até).

5 comentários:

Daniel F disse...

Ganhei de presente o A Geração que esbanjou seus poetas. No livro os críticos literários associam a questão à especificidade da URSS. Discordo. Acho que é mais abrangente, deve ser uma opção dita civilizadora mesmo. Já a questão dos limites do formalismo é legal. Não digo que os poetas de hoje sejam do mesmo teor que os daquela geração, seria desonesto. Mas o esbanjamento é o mesmo, em quase todo lugar. Dizendo melhor: os poemas não são os mesmos, mas os poetas... que los hay, los hay. Pressinto que isso tem muito a ver com seu poema, mas não sei explicar. Um abraço,

Haemocytometer Metzengerstein disse...

"Tomar de sopro" é um achado. :)

Esse fim de ano tem me deixado triste por aqui. Com medo, mais da vida que da morte.

Lembro de Roscharch em Watchmen, com sua placa "o mundo vai acabar amanhã", o jornaleiro dizendo "hei, você estava ontem com essa placa e o mundo não acabou", e Roscharch responde "tem certeza?"

Abração.

Daniel F disse...

Ainda sobre a edição do Jakobson (não sei se fujo do motivo do poema, mas não sei se por coincidência, acho que não, li o livro hoje), os críticos Sonia Regina Martins e José Alcides (suponho que sejam críticos, não conheço o trabalho deles) associam a geração dos poetas russos e o suicídio de Maiakovski à asfixia bolchevista. Acho que isso só em parte é verdadeiro - os comentários da edição podiam ter ido além desse blablabla Guerra Fria. Acho que o lance é mais profundo: diz respeito às apostas e possibilidades de uma civilização e seus poetas (pra mim poeta não tem nada de especial, é apenas quem aceita o risco da poesia, pode ser qualquer um). Um amigo meu um dia desses me perguntou se eu, "como historiador" (não gosto muito disso, mas sei que o sou até o fundo dos ossos) achava que vivemos na pior das épocas. Não sei. Sei que vivemos no Deserto, podemos pensar noutros tempos parecidos mas este é o nosso. O que vejo é pessoas que defendem bons princípios, que agem corretamente, e que mesmo sofrem pelo que fazem (ou seja, são éticas) ferindo-se mutuamente. Ninguém sabe porque ou como, mas é o que rola. Não falo de outros que nem sequer pensam, estes ainda acho que são minoria. Sei que também faço o mesmo a quem está à minha volta e já quase desisti de arrumar uma saída - ou seja, não sei o que fazer. Acho que é mesmo o fim do mundo, o fim da poesia, que vivemos, mas não vamos nos dar por vencidos. Abraço a todos epistolares,

Daniel F

Aldemar Norek disse...

Acho que existem poetas hoje tão bons quanto. Quando falo "hoje" falo de 70 pra cá.
O problema desta crise é justamente que pessoas de bem se entristecem (o tal Deserto que vc falou, Daniel), mas parecem não ver que existe uma outra violência quase tão grande, ou maior, que é de cima pra baixo, um rolo compressor que transforma tudo em massa de pastel. Tudo vira bolinho. E a chapa é quente nas chamadas comunidades. Não tem escola, creche, saúde, lazer, cinema, livraria, parquinho, não tem dignidade, humanidade, esgoto, rede de águas pluviais, asfalto, meio-fio, ....
Não dá pra pedir pra que alguns não se brutalizem - porque junto tem a pressão pra ter carro importado, celular, hidromassagem e outros babilaques e quinquilharias do capital.
Enquanto isso a classe média discute (a sério) a pena de morte.

Aldemar Norek disse...

acho mesmo que só é possível sobreviver pela beleza. O silêncio às vezes muda, mas é um auxiliar da beleza.