5/25/2009

nº 94





Corpo, labirinto
entre você e o mundo, perdição
de todos os sentidos, um
a um estendidos em seu limite, tantos anos
buscando a saída pela imagem
de que dentro, mais
ao centro, arde
o que encerra o labirinto perdido, miragem
que pulsa, corpo, sobre outros
labirintos, pedra, asfalto, areia,
carne, pensamento
sem a chave do mistério, no distúrbio
de não ser, além
de si e aquém,
algo mais que estas paredes
nuas e sangue e nervos
com o vazio
ao centro.

(das "Notas Marginais").

5/21/2009

Noturnos (uma letra de música)


NOTURNOS
(Fred Martins/Aldemar Norek)

se uma noite não tem fim
nem promessa de luar
e se o corpo não sentir
quando o mundo lhe tocar
ou se as coisas sem saber
dormem fora de lugar
e lá
você
ficou
sem sonhar

avenidas e sinais
outro clipe casual
paisagens são vitrais
estilhaços do real
que não colam nunca mais

e lá
por sobre o mar
hoje a noite sem estrela
só espelha os olhos dela
longa noite sem estrela
vela os olhos negros dela

(p.s. segundo o Fred, a música é um maracatu. Não sei não.....Mas é uma melodia muito bonita).

5/15/2009

Google traduzir esquizoide

21 St Century Schizoid Man, King Crimson, traduzido pelo google:


Cat's pé ferro garra
Neuro-cirurgiões gritar por mais
Na paranóia veneno da porta.
Século XXI esquizóide homem.

Block rack arame farpado
Polititians' pira funerária
Inocentes violadas com napalm fogo
Século XXI esquizóide homem.

Morte sementes cego da ganância
Poetas' crianças sangram
Nada ele tem que ele realmente necessita
Século XXI esquizóide homem.

5/12/2009

Conciliábulo

Mas porque eu deixaria como rastro
O amor que você,
Cobra me cobra pra
Amar como quem anda armado
Ou se armadilha em

Deserto, desterro ou arquipélago, se
Em sua ilha de amigos belicosos

Rastejar se oferece no cardápio frio
Entre seus perdões de chumbo
Pelo que você não tem, alma –
Ulcera engrenagem vazia, concílio
Devorador de sangue, vômito
Inodoro que o amor desmente,
Ou repudia.

5/06/2009

Meu rito de passagem

O rito: presentificação ou transposição do mito?
Mito de origem?
Meu rito é a transposição do complexo de Édipo em várias instâncias?
Ou simplesmente uma etapa crucial no processo de autoconhecimento?

Transformação, superação, modificação ou apenas externalização de um “eu’ dormente?
Sou quem sempre fui; sou a junção do “eu’ com o “tu”; sou o “nós”!
Que saia o indivíduo! Mas que o indivíduo se esvazie, e que o “nós” prevaleça!
Nenhum homem é uma ilha – que o “eu” fique cheio do “Nós”

Hoje realmente sou quem sempre fui
Na interação com o “tu” meu “eu” surge, todavia o “nós” prevalece!
Feliz do povo cujo “nós” prevalece sobre o “eu”
Feliz de mim!

Cogito ergo sum
Homo lupus homini
Post Tenebras Lux
E na coroa de Louros – Laura; na interação do “eu” com o “tu”, me torno quem sempre fui.
Enfim, depois de um curto tempo na escuridão, a luz surge das trevas!

Meu ritual de passagem foi o Amor;
Um amor que me sorriu numa tarde nublada de domingo
Um amor que, advindo apenas de uma troca de olhares,
Revelou-me que o deserto havia passado
Linda-Loira-Laura – coroa de louros para o perdedor-vencedor
Perdi certezas; ganhei paz e esperança.

5/03/2009

Para não morrer da verdade


Eu ele você os carros
E a santa aureolada
A noite de tantos se foi
Aos pedaços
Nada sobrou
A não ser a mão - na minha
E o travesseiro de pluma
Azulado

Paineira: entre minha presença e minha saudade


A linguagem das paineiras

Para Igraine com saudade

Passado treze dias de marcha ruminesca
em direção ao nada, ao vazio e a mim
em viagem rumo aos centros de mim, da terra e do universo descentrados

universos translúcidos de der vi ches loucos: tempos loucos!

Um dos universos distinguíveis por seu silêncio fraternal
universo não-universal que desponta no poente e na aurora
universo de meio-tons
tonalidades que tocam as sensibilidades escondidas e perdidas
tesouros...

O amor na vertical da horizontalidade
E na verticalidade do horizonte

Fuga de horizontes nas descidas luminosas
E nas tonalidades ascendentes que surgem, brotam e se vão como uma suave música

Eis que chego em minha varanda
E sou presenteado
Entre árvores, plantas e folhas em 13 dias floresceram
Rosas meio-tons no caule e nas folhas de uma paineira solitária

Uma beleza nua e silenciosa no meio do sertão
No vale do sertão
Por apenas doze dias elas ficarão:
perecerão então:
deveria restar um botão?
E minha lembrança: eterna memória!

Fui brindado com o roseado caído
De uma majestasa paineira
Flores que brotam do nada
Flores que brotam das profundezas seivadas por pouco Tempo

A espera do vento e do Tempo
Para lentamente, pacientemente e docemente
Caírem: beijarem o chão
E nutrirem a terra para desabrocharem daqui um novo Tempo

A espera da minha contemplação
Da minha parca capacidade de ver, ouvir, tocar e sentir
Por instantes permaneço frente a ela e a vejo, sinto, escuto e toco: paineira solitária do sertão

Quantas flores caem por dia?

Gostaria de morrer e renascer
A cada instante, a cada cair das folhas da paineira que vive para bilhar o azul do céu
A esperar a esperança de penetrar na dança
Das folhas que brotam e caem
E no balé das folhas verdes que dão o tom perene do que fica no tronco e na raiz

Raiz sem rumos: rizoma de flores a bailar no céu
Neste instante silencioso busco o silêncio solitário da paineira do Ser Tão

5/01/2009

"sinto, logo sou"

Cogito ergo sum
Era esse meu lema: penso logo existo
Ledo engano
Coitado do Descartes... não sabia de nada!
Que se dane se meus sentidos me enganam
Sinto, logo sou!
Sentio ergo sum!

4/26/2009

Sentenças e Máximas de Oito-Olhos)

Em parceria com Álogos. Além de outros parceiros, muitos, estes involuntários. O bigode é a sinédoque do pessoal, pra manter o lance professoral... Fora isso, nada aqui é inventado. E aí, e isso falo só por mim, isso tudo me lembra a segunda melhor música do Raulzito. Falem mal, mas (ah sei lá, foda-se quem fala mal!). Meu amigo, Pedro. A tragédia está entre ser Raulzito e o Amigo Pedro. Não sei também se dá pra chamar isso de tragédia.


Como um raio que cai em sua cabeça ou como um bacharel doutor proletário cult praticando a massagem linguopedal nos camelos do deserto você de uma hora pra outra se vê num auditório repleto de outros tantos como você. Você se acha especial mas um dia as máscaras caem e o que se revela sob seu rosto é a mesma massa mole de modelar. Ainda mais depois do aviso de Oito-Olhos: “sorte não existe, sorte é destino, azar o seu o que existe é derrota ou vitória”.
E como Oito-Olhos vai subindo a escada lateral do auditório como se o piso fosse feito de línguas úmidas massageando seus imensos e deformados e chulepentos e magníficos pés! E como ele se agarra ao microfone como se fosse uma tábua de salvação, prêmios aos homens que se vestem de mulher na hora do naufrágio pra furar a fila do estágio probatório da morte que os espera logo ali, entre os fios do microfone.
Mas, ei, os fios do microfone não são línguas umidificando seus ouvidos, a hora da foda é pra ser desagradável, outro aviso de Oito-Olhos, não deve ser contabilizada no item férias, passeios e cagadas agradáveis. Enfim, eis as sentenças de Oito-Olhos:

1. O plural de anfitrião é anfitriões. Mesmo assim fico feliz ao ver que esse auditório está lotado (de panacas).
2. Eu confecciono diplomas de Seres Humanos Completos aos subalternos que concluem a jornada.
3. Toda comissão permanente tem atribuições específicas.
4. Todo A será inevitavelmente igual a outro A, mas as siglas, como os vizinhos, não merecem confiança. UFO, por exemplo. Exemplo hipotético.
5. O Ricardo é um santo e se você tiver sorte um raio não cairá sobre sua cabeça.
6. O pagamento: ôba!
7. A Diretoria dos Portadores de Dependência Química.
8. Queria usar uma camisa de forças.
9. 20 minutos é pouco tempo quando o tema é a falta de assunto. (Enquanto fala isso, Oito-Olhos dá uma coçada no cu).
10. Esta cidade está crescendo desesperadamente.
11. Sempre sorrir e abolir a palavra “não”.
12. No que concerne ao meu coração, estou recebendo vocês na minha cozinha.
13. Recuperar a auto-estima sem dinheiro, só com o calor humano.
14. Pluralidade de idéias – mas com a obrigação da Idéia Única. O Todo. O consenso que leva ao maior consenso.
15. A Instituição foi pensada para a Eternidade. Foi pensada nisto. Mas cada um precisa de uma mesa. Cada um de nós é todos nós. E mesa é muito complicado: é uma construção civil.
16. Muito pouca gente entende isso.
17. Órgão de apoio é tudo apoio.
18. O poder é construído pelo Trono do Poder: a Caneta! A tarefa do Vice Poder é impedir o impedimento do Poder.
19. Nada de briga. Tudo tem que ser no intelectual.
20. Arroto, a nível de interação.
21. O orgulho é o objetivo da Empulhação Definitiva. Com 40% de Ética você será vitorioso na carreira.
22. O pagamento: oba!
23. Eu não conheço direito os meus amigos. Nós formamos um time.
24. As redes astronômica é a responsável pelo acontecer do ensino.
25. Eu tirei o bigode pra criar novos ares, mas isso dificulta o meu discurso.
26. Planejamento é o ato de planejar & uma coisa é comprar outra é guardar.
27. Acabou a moleza.
28. O pagamento: oba!
29. Já fui um incendiário de calça de boca de sino. Meus amigos enriqueciam costurando dentes de madames enquanto eu me matava de estudar. Agora estou aqui, sou o Poder. Tenho o previlégio de discursar.
30. De onde saíram os ETs desta mesa?
31. Terra cheia de confritos (mistura dialética de conflitos e ovos fritos).
32. A capacidade de catalisar pessoas para trabalhar nessa bandeira.
33. O amor própio é o ópio do povo.
34. O problema do atestado fajuto.
35. O pagamento: oba!
36. Vocês continuarão aqui pelo menos até 2400.
37. O era é experiência para fazer melhor. O sonho que esperamos torná-lo realidade.
38. Rejuvelhecer.
39. O Poder é estúpido, mas faz cara de paisagem.
40. A competição é te valorizar.
41. O Brasil é uma República, mas o Acre não conta.
42. Você não pode se casar com a sua irmã.
43. Um dia a máscara cai. Direita Administrativa: Direito Administrativo.
44. A polícia federal está aqui, graças a Deus.
45. LIMPE.
46. O caminho errado não vai dar em nada.
47. O pagamento: oba!
48. Na dúvida sempre pergunte: é simples assim?
49. Eu estou com vontade de chorar.
50. Vamos parar de inventar, por favor.
51. 40% de Ética é suficiente: escolha os itens que não desagradem a Chefia.
52. Capacitar para fortalecer a hierarquia.
53. Ninguém pode mudar o Sistema. Somos meros informantes.
51. Quanto tempo falta?
52. O negrito é uma filosofia de gestão.
53. O próprio formulário vai exigir isto de vocês.
54. É preciso olhar para frente, e não pelo retrovisor (para que não possamos olhar para o próprio rabo).
55. Nós temos que pagar por esta tranqüilidade.
56. Quanto tempo falta?
57. Minhas ações não condizem com o que eu faço.
58. Mulher normal não reclama do marido, mas interpretar não faz mal a ninguém.
59. O que não está na lei, não está no mundo; mas precisamos organizar o que está por trás.
60. Quanto tempo falta?
61. Não é permitido ter simpatias, antipatias, caprichos...
62. O pagamento: oba!
63. A pessoa jurídica não é palpável internamente.
64. Quanto tempo falta?
65. O pagamento: oba!
66. Quanto tempo falta?
67. Acabou!
68. LIMPE!

P.S.(69): Sempre dá para organizar tudo!

4/16/2009

Sobre um grafite metafísico (pra desdizer o que eu disse abaixo, Daniel)

Lendo o relato sobre um
que escrevia fora
de seu tempo,
a alma é o cu de existir
nesta porra que chamamos vida.
Por ela passam fezes - as emoções.
Uma ou outra
suja suas bordas quando lhe atravessa.
Às vezes o Amor quer lhe invadir,
a todo custo,
e é sempre um estupro –
a dor é certa,
mesmo se houver prazer
na perversão
”,
percebeu que ele gastara quase meio século
mais seis anos do seguinte
pra escrever esta metáfora
gasta, idiota e portuguesa.

Melhor seria tomar o todo pela parte?
Ou é impossível encontrar de novo
o endereço da arte?

4/15/2009

Sem título

Coriza de buceta
Cu lacrimejante

Caga pelos olhos
Peida pelo nariz
Tem corrimento na língua

4/11/2009

Aventura no Procon de Cuberlândia



1.
Um Daniel sem fé
Pra enfrentar os leões
Do telemarketing, amestrados
Por administradores leões
Sem rosto, sem resposta. Aqui
Ninguém manda, mas todos
Se fodem.


2.
São garras invisíveis, mas
Finas e pentrantes como agulhas
Navegando por fios - Leviatã elétrico:
Quem vai responder por isso? Qual
Das três potências,
Os mafiosos do grupo lcr,
Especializados em extorsão extra-
Judicial? A “nossa” caixa de Pandora
E sua ouvidoria esperta
Como Ninguém, de ouvidos tapados
Com cera digital? A mastercard
Mestre dos Cartões, para os íntimos, masturbocard
O leão que bate uma punheta
Quando te vê se cagando
Na câmera oculta, sorria?



3.
Enfim o fato é que entre idas
E vindas viemos parar em mais
Outro porão habitado por sibilas
Sinuosas, comedoras de macarrão instantâneo,
Eu e você, minha senhora,
Me esqueci de perguntar o seu nome.
A senhora, ao contrário dos outros
Fodidos como nós, não acha graça
No programa escolhido a dedo
Por mais algum destes leões ocultos:

Na TV dois encanadores
Carregam tubos enormes de pvc
E propositalmente dão pancadas
Nas pessoas da rua. Depois
Uma secretária recém-contratada
Descobre que o chefe é um estuprador
Fugido do hospício (o estuprador
Foge do hospício e se traveste
De chefe, é sempre a mesma
História).
Mas no final todos se divertem.


4.
Pois é, a senhora não leu
Montaigne sobre a diversão
Um ensaio sobre a tática
Militar do desvio
De atenção, mas, como me diz,
Aprendeu tudo na vida
Que vale mais que todos
Os livros. E ainda por cima
Me explica que história
É polêmica pela natureza
Da própria palavra que diz
Eu conto, você conta
Uma história (de passagem
Fez um comentário sobre
O lado bíblico do meu nome,
Só acho que tenho mais
A ver com o sonho
Do gigante de pés de barro
Do que com a coragem da fé).

Mas o que dizer, minha
Senhora, isso eu não te perguntei
Devia ter feito, se o Proconsule
A masturbocard, a nossa caixa de Pandora
E a máfia lcr são o que sobrou da vida?
Que história pode
Ser contada por um homem
Sem fé?

4/10/2009

nestas mal traçadas




Nas longas cartas, tantas, sem motivo
(se é que cartas precisam de razão),
tentei em vão mapear o coração
pra que você viesse sem aviso
e sem se desculpar: a casa é sua,
mesmo que eu esteja ausente ou até perdido
por tantos descaminhos do sentido.
É sempre assim, a vida continua
a não nos prover mais dos seus motivos,
e a gente anda às tontas, de improviso,
pagando mais pecados que devia
– tarifas de que você anda farta.
Bem, isto é na verdade uma outra carta
que devo lhe escrever em qualquer dia.
(do livro "Circunstância".)

4/07/2009

Da série Amérika. Resenha de Significado da Fronteira na Vida Americana (uma ode de F. Turner)

Contra o deserto, o intocado, o incivil, o indomesticado, o índio


Amérika, vai nascendo de dentro de si mesma e cada traficante de peles e bonecos plásticos


é um guerreiro de sua causa quando faz um mergulho impetuoso na fonte esquecida, na mistura de sangue, seiva e terra que jaz encoberta pelas máscaras e pisos de mármore da Europa decadente e cada avanço é um retrocesso, uma descida ao inferno, um retorno ao tempo pulsante da animalidade, um reencontro com tudo o que a humanidade abandonou a duras penas, palmatórias e livros de etiqueta e como se injetasse um feto macerado na veia o nobre europeu se indianiza se indomestica se cavaliza se mistura ao ambiente se converte em verme se mineraliza e ganha a vida novamente e se refaz como seiva, sangue, esperma e o organismo renasce, mais complexo e viril, armado, os iroqueses experimentarão a fúria renovada e desse parto a fórceps no deserto, na hostilidade, emerge o heróico homem comum de veias interligadas aos seus rios, o coração na forma de seu mapa, sempre em expansão e nos olhos deste homem que aceitou encarar o Anjo Exterminador e em tudo o mais ele nada é além de você mesma


Amérika.

Sobre os chupchups, sacolés, lambelambes e laranginhas

Pensar sobre
Pensar simplesmente?

Pensar sobre o nada
Pesar sobre o nada e o silêncio

Viver o nada e o silêncio é outra coisa?
outra vida? ou outra história?

Vozes do silêncio
Linguagens do silêncio
do mal no bem
e do bem no mal
Para além do bem e do mal?

Em busca da moralidade
zoorastricamente perdida?

De quantas couves
e quantas flores
são feitas um homens: individuns endividados!

Estou em busca de uma nova religiosidade: entre um misticismo sem Deus e
um misticismo agnóstico: novas apostas, novas partidas
sem a casa partida?

Parto para viagens em busca de alçar vôo em meu navegar
vageado e, sobretudo, vagabundeando em meus eternos roubos

regiliogidade imaginária e imaginada: devaneios sobre o Real indizível
mas nem por isso invivido
na poesia do ser sendo, no cotidiano e no vôo dos tucanos
(o que busca um tucano em seu soberbo vôo no vale)

Vale tudo mesmo?

mística imaginada e desejada
fatástico lugar
onde o ateísmo seja uma crença
e as religiões uma descrença

em busca das verdades cindidas do real, fraturado e estriado
O Real tem celulite, deve ser que chove Coca-Cola

em busca do invísivel idisível da experiência do que aí pode não estar e estar
o viver e o morer tem prazes vivos e belos: recolocam mistérios e prazeres do Tempo
O tempo chora e ri?

Enfim, em busca do instante extraordinário.
Ou melhor, de cada instante extra-ordinário.
Extraordinário e oscilante, talvez até reconciliante?
Reconhecimento consciente e inconsciente da casa sem dono
Começarei minha navegação pelo porão: entre Aion e Chronos

São crónicas de um ser em busca da unidade dos indivíduos
Crônicas da morte vivida
Crônicas que anunciam a promessa do instante tateante
Há peixes que mergulham, há peixes das profundezas
e há peixes da superfície

Há ainda a baleia branca

Há homens que não se despertam
Há aqueles que saltam dos precipícios cotidianos, instantaneos
Outros buscam tesouros (ou esperam na esperança de encontrar)

De uma subjetividade de delírios profundos e superficiais
Para uma objetividade do semelhante em constante dívida e prece pecadora
Gostaria de matar a subjetividade capitalista e a cultura capitalistica: o que haverá depois disso?
Já existe? Já existiu? Ou está a nossa espera?

Mares, mortes e maremotos: a viagem prossegue agora em mares desconhecidos
Domesticando a mim mesmo em busca da pós-história, da pós-cultura
Gostaria de esperimentar por instantes o saber da liberdade interna e externa: contra as escravidões navego e sou navegado

A espera de uma nave espacial?
Enquanto espero surge a expectativa no horizonte de fulga de mergulhar
na liberdade do instante
mergulhar nas palavras ocas ainda a espera de sentidos
na beleza poética da existência da vida e das palavras

Na dúvida da dádiva do dom: me retiro

4/05/2009

Sobre ela

desenho de Franz Kafka, sem permissão do autor....



Uma voz me procura sonho adentro,
vida adentro, não sei se é este o lado
ou o outro, em que me venho só e ardendo
e não me chego cedo nem me tardo:
vivia de impresságios afogado,
no pendular das noites e dos dias
e da inconcreta espuma em que me vazo,
sonante espuma, flutuante e fria,
nasce mais um silêncio estarrecido,
crespo silêncio, todo ruga e gelo
- congela os olhos, sangue, boca, pelo.
Manchada a pele embaixo do tecido,
a voz me chega do buraco fundo:
a palavra é a véspera do mundo.

3/29/2009

Inventário




Meus versos são banais e eu negocio
um prazo a mais, um sentimento urgente,
mesmo que vá ficar inadimplente
e o coração acabe assim vazio.
Acreditavam ser a Terra plana,
que acabasse o mar de forma abrupta
e outras ilusões que a vida oculta
na palavra que salva, e na que engana:
a palavra rejeita a força bruta,
o capital, o mercado, e outras delícias
que o olho vê e o coração perscruta.
Ando correndo atrás do prejuízo:
não sei ainda de fato o que preciso,
de vinho, de ambrosia ou de cicuta ...

3/27/2009

Apocalipse Now, ou O Furor da Poesia sem Assinatura da Web

URGENTÍSSIMO...QUEM NÃO TEM TV POR ASSINATURA , PORFAVOR, REPASSE ASSIM MESMO,POIS PODERÁ AJUDAR A ABRIR OS OLHOS DE ALGUÉM: ASSALTO PROGRAMADO TV ASSINATURA e MSN. A criatividade dos nossos marginais chega às alturas. Agora estão enviando pelo correio, uma carta com papel timbrado DE qualquer canal de TVpor assinatura. Na carta, que por sinal é muito bemelaborada , onde diz que estão modernizando a sua tecnologia e que seránecessária a substituição deequipamento dentro da casa do assinante. DENTRO DA CASA DO ASSINANTE! Eles colocam um número detelefone (de um comparsa) para oagendamento. Se o assinante (PESSOA) não conhece ogolpe e não telefona para o verdadeiro número da Operadora de TV, paraconfirmar se isto procede mesmo, os marginais praticam o assalto em suaresidência com hora marcada e com você abrindo a porta e servindo umcafezinho e abrindo a tampa de sua privada pra que eles CAGUEM!!!.Viram onde chegou a ousadia dosbandidos?As próprias vítimas marcam o dia em quesua residência vai ser assaltada!!

SOBRE O MSN- MUITO GRAVE! Cuidado É muitoimportante!VC TEM MSN? ENTÃO.. ATENÇÃO!!!!LEIA E REPASSE COM URGÊNCIA A TODOSAMIGOS.Se você receber e-mail pedindo praatualizar o MSN para a versão 8.0 , não clique, pois é um vírus.E também, se alguém chamado KRMAZOV@hotmail.com quiser te adicionar no MSN, NÃO aceite. É umvírus que apaga em 3 minutos todo o HD.Conte a todos que você tem no seu MSNporque, se alguém na tua lista adiciona, você também pega o vírus.

ATENZIONE CON TUBARONE, CAPISCO?

3/26/2009

ars poetica - revista

1. diga logo o que você tem a dizer e saia.

2. se esta coisa toda não tiver a ver com o real, esqueça.

3. olhe ao redor, a partir do corpo.

4. diga "não há tal coisa" para o que não fizer parte do lixão.

3/21/2009








1.

Aqui jaz
Uberlândia, entre
Muros, em você
Na sua, o sol deixou
Rastros
Pintados na tinta fabricada
Com suor de fios elétricos –

Defesa eficaz contra gatos
E pássaros.


2.

Uberlândia é sua
Própria cova e os muros
Erguidos com areia
Do deserto e migalhas
De feixes de luz
Jogadas pela outra
Metrópole, a imensa
Cidade com que sonham
Os lagartos do cerrado,

Perfazem o enigmático
Desenho, entre labirinto
De amplíssimos corredores
E mausoléu.

3/09/2009

Crítica literária FBI

“William Carlos Williams faz o tipo de professor distraído. Seus poemas em estilo expressionista podem ser lidos como um código.”

P. ex.

O Carrinho de mão vermelho (trad. José Paulo Paes): tanta coisa depende/ de um/ carrinho de mão/ vermelho/ esmaltado de água de/ chuva/ ao lado de galinhas/ brancas.

Na leitura de Herman Kahn, pai da FUTUROLOGIA: “Primeira questão: por que vermelho? Estamos diante do que definimos como ESCALADA: de um ponto ínfimo que seja, desde que vermelho, a desordem no mundo vai se propagando em progressão geométrica. O branco remete à paz, tratada no poema de modo derrisório, relacionado às penas fedorentas de galinhas molhadas. Em WC a chuva é um acontecimento cósmico, ver aquela imagem das árvores como feras marinhas (stalinismo) ou do amor gratuito como gotas que caem sobre si mesmas (terrorismo ou a pele da mulher amada). Imagens da ordem do que denominamos como The Doom Machine, a interligação aritmética entre bombas com poder de devastação geométrica afastando os inimigos da Civilização. O mal contagia. O mesmo se trata com o mesmo. Eis o recado que WC quis passar aos nossos inimigos, com esse aparentemente singelo poema sem sentido. Não confiemos na falta de sentido. E mostraremos aos tais que não somos galinhas.”

“PS. Desdobramento estratégico para a América dita Latina por Napoleão III: a chuva no caso deve ser pensada como nacional-desenvolvimentismo. Ao perceber que um mar de mijo invadia aquelas bandas, o presidente Schreber resolveu construir uma fortaleza. Ele estava errado porque água se combate com água. O mimetismo é o princípio fundamental da arte da guerra.”

NOTA: Herman Kahn, estrategista da guerra nuclear, fundou o Hudson Institute. Sediado em Wahsington, até 1992 voltado principalmente para estudos na área de segurança/defesa nacional. Depois disso, numa imprevisível e esquizofrência virada (lembrar que segundo Freud a paranóia é o processo de cura da esquziofrenia), o Instituto mudou seu tema preferencial para o multiculturalismo.

3/05/2009

Oito-Olhos, codinome Marco Antonio Villa

Vou mudar um pouco, mas só um pouco, a inflexão do blog. É que hoje fiquei com vergonha de ser historiador. Depois de ler um texto daqueles "contrafação de Oito-Olhos" de arrepiar os cabelos, no contexto da questão infame da "Ditabranda". Pensei em elaborar uma resposta. Comecei a escrever. Mas a tarefa é quase interminável. O que privilegiar num comentário crítico: as mentiras apresentadas por Oito-Olhos, os sofismas, as trapaças chanceladas pelo cargo de "historiador" ou as chantagens? Basta dizer que, com argumentos como os apresentados, OitOVilollhOs poderia defender o nazismo, o fascismo ou qualquer forma de governo. Afinal, eles também foram produtivos culturalmente. Resolvi então por aqui uma citação que eu tinha separado para a série Amérika. É do prefácio do Whitman a leaves of grass (só não sei porque traduzem por folha da relva ao invés de folhas da grama, é pra ficar mais bonitinho?). Aí vai, na tradução de Rodrigo Garcia Lopes:


"Quando a liberdade vai embora, ela não é a primeira nem a segunda ou a terceira a ir embora... ela espera que o resto parta primeiro... é a última a partir... Quando as memórias dos velhos mártires se apagarem totalmente... quando os grandes nomes dos patriotas forem ridicularizados em salas públicas pelos lábios dos oradores... quando não se derem mais aqueles nomes aos meninos e sim os nomes de tiranos e ditadores... quando as leis dos que são livres forem permitidas de má vontade e as leis dos dedos-duros e dos assassinos de aluguel se tornarem doces ao paladar do povo... quando eu e você passearmos lá fora sobre a terra afligidos de compaixão ao avistar inúmeros irmãos respondendo com igualdade à nossa amizade e sem chamar ninguém de mestre - e quando ficarmos exaltados com prazer nobre ao vermos escravos... quando a alma se retirar para a comunhão refrescante da noite e avaliar sua experiência e sentir imenso êxtase pela palavra e pelos atos que colocam uma pessoa impotente e inocente nas garras dos carrascos ou em qualquer posição de cruel inferioridade... quando aqueles em todas as partes destes estados que poderiam perceber o verdadeiro caráter americano mas ainda não o fazem - quando as pragas de puxa-sacos, sanguessugas, pusilânimes, parasita de políticos, planejadores de armações e dissimulados a favor de sua própria nomeação para cargos municipais ou legislaturas estaduais ou para o judiciário ou o congresso ou a presidência, obtiverem uma resposta de amor e complacência natural do povo quer consigam seus cargos quer não... quando for mais vantagem ser um imbecil decidido e um trapaceiro com cargo e um alto salário do que o mais pobre mecânico livre ou fazendeiro com o chapéu imóvel em sua cabeça e olhos firmes e um coração cândido e generoso... e quando o servilismo do município ou estado ou do governo federal ou qualquer opressão em larga ou pequena escala puder ser provada sem que sua punição siga em exata proporção contra a menor chance de escapar... ou então quando toda a vida e todas as almas de homens e mulheres forem banidos de todas as partes da terra - só então o instinto de liberdade terá sido banido daquela terra."

PS: Só tem uma coisa no artigo que parece inquestionável. Por aqui, a liberdade nunca foi bem vinda. Oito-Olhos deu mais um testemunho (e não uma análise) disso.

3/03/2009

nº 16

Virtual é o caralho’, ninguém estende a mão e tinge os dedos em você, rubro,
forjando mitografias nos puteiros do mundo.
Esta porra é cheia os puteiros e você, enfunado, se divertia
levando no olhar espinhos de sarcasmo,
escárnio e desprezo.
Labareda onde queima o seu espírito, que não sabe se o calor aquece
ou segue adiante.

(das "Notas Marginais")

3/02/2009

Em busca do amor (burguês e romântico?)

Em busca do amor (burguês e romântico?)

O que é o sentimento?
E a intensidade?
O mar intenso é o da ressaca? ou é de todos os dias?

O brilho do sol prima pela calma das ondas (idas e vindas)
estações, coesões do Eterno movimento
O amor é da ordem da calma? e a paixão da ordem da loucura?
Há paixão sem amor! Mas haveria amor sem paixões?
Mas paixão é intensidade? Tenra idade! Como seria a paixão dos idosos? dos loucos e dos jovens?

Dúvidas de um amor revolto-tranquilo e tranquilo-revolto

Dúvidas de um amor nascente

Dúvidas como as flores q. na primaveram desejam florescer
e a cada ano o fazem
para alegrar nossa existência

esperanças a esperar o desabrochar dessa flor

Entre minhas loucuras e sanidades: mais um delírio

Entre minhas loucuras e sanidades: mais um delírio

Entre routes e rotas
Entre pessoas e amigos
Entre crianças e adultos
Indo sempre a Entre Rios
Entre Rios e a Mesopotânia (Fodas a Grécia!)

É realmente possível a terceira margem?
Onde está aquele barqueiro
Entre o lobo e o cordeiro: eu?

Entre rios: qual margens?
Bordas cortando nossos bordados a esperar
nosso estilete a cortar
cicatriz que ciatriza a ferida que fere

Entre lugares (com ou sem hífem fem fem agora?)
Entre mulheres e mães
Entre o trabalho e o ócio
Entre o amor e o pecado
Entre Deus e Beuzebú

Entre o nomadismo sedetário e sedentarismo nomade
Entre jogos de verdade e jogos de linguagem
Entre a porra e o carralho

Não consigo entrar no meu coração
cor ação par coeur
ferido a estar curado

Em busca da trindade (dialética e não dialética; reconciliante e não reconciliante)
neutralizante
em busca da verdade e da paz no nosso inferno de cada dia

3/01/2009

Circusntância, 3

Você não vem - isto é definitivo
como no rapto de viver (surfar
na chama do instante, seu desatino)
a gente vê o presente cancelar
a si mesmo, contínuo, incendiando
cada segundo, agora, na explosão
de um outro a ele atado, ardendo tanto
que nada além de cinzas do lixão
do tempo, memória, vai ter assento
no chão do pensamento, e mesmo que
desse rescaldo a gente faça tinta
e imprima em novos livros fragmentos
de espanto, poemas, não vai deter-
se o fim, poeira fina, coisa finda.