11/05/2006

Cordeiro em pele de lobo

O primeiro licantropo
Segurava o cetro, trouxera o arado,
Civilizara a cidade, mas não a si mesmo.

Por isso: paulada nele!

O segundo licantropo,

Este apenas sonhava
Com uma árvore cheia de frutos-lobo
Os olhos queimando na noite escura.

Por isso: deita quieto no divã!

O terceiro licantropo
Descera pelo ralo podre da comunidade
Lambia os ossos das crianças
Era chamado de O Grande Traidor.

Por isso: eletrochoque no seu ânus!

O quarto licantropo
Descendia de todos os outros.
Não falava mais, grunhia,
Marionete desenhada por dedos finos e longos
Rajados de cinza e preto.

Por isso: nada! Pra esse só mesmo o silêncio.

Teve ainda a raposa que caiu na pequena cidade
E foi canibalizada em festa pelos concidadãos.
Teve ainda o menino-onça que matava sem querer
Pelo gosto mesmo de sangue, só isso.
Teve ainda a lobismulher
Que sabia usar os dentes como ninguém.

Agora olhe bem:
Toda essa fauna rosna dentro de você,
E não, ela não é o seu pior,
Aqueles olhos que brilhavam no seu pesadelo
Tinham o gosto salgado do mar,
O verdadeiro mar de absinto.
Aquele grunhido foi seu melhor idioma.

O castigo é que foi lógico, preclaro e prudente.

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