11/08/2006

Panelinha, Panelão, Panelaço


à meia luz, ao som de zeca baleiro ao violão,
nas mesas de alumínio branco sob o incenso de batata frita,
estão sentadas as panelinhas.
cada uma com seu jeito muito próprio
bem apropriado de adoçar, de deglutir, de edulcorar, de decupar,
de decorar (o ambiente):
cá entre nós entre os dentes, dizendo, aqui não aqui diferentes os idiotas nas mesas outras, sempre, aqui não todo mundo brother lá se odeiam aqui não inveja injeção objeção sujeição lá não lá só barbárie aqui sim todo mundo é bárbaro selvagem maluco por outro lado os de lá não são sim tolinhos lobinhos aqui só moinhos lá songamongas aqui sim todo mundo do bem por dentro bem dentro da mesa aqui os lá de fora não lá estão por fora são de se jogar fora dá o fora,

enquanto isso, lá
na balcão de bar de fórmica vermelha
os solitários também trocam olhares de cumplicidade
o que também dá na mesma
tudo é o mesmo dentro do panelão em que fervem as panelinhas em banho-maria
- só o que muda é o tempero e o jogo dos legumes.


tempero e legumes
minha vó me dizia
(que nostalgia)
são a alma do cozidão
diante da imensa panela de ferro

- mas vem cá, espera aí
que será este som de batucada?
meio disforme, raivoso demais, ruidoso demais,
risonha besta demais de dentes de metal demais sobre o mar cor de verde caipirosca
demais
atrapalhando os versinhos de zeca baleiro?

espia só:
é o povão batendo panelas nas janelas amarelas!
olha só:

estamos em 1984!

Um comentário:

Haemocytometer Metzengerstein disse...

Muito bom! Espero que chegue logo 1979 pra gente poder batucar um balanço diferente no breque da Clarinha ;)