11/02/2006

Então

Aí ele saiu de casa à espera de um incêndio vermelho
Aí ele atravessou a rua diante de um coração pendurado no velho pinheiro cheio de dentes
Aí ele cruzou três olhares de diferentes direções rancor ciúme e sedução e sonhou com espelhos partidos
Aí ele ouviu a conversa sobre o nada nadificante que se desnuda e que se tuda no ser transheideggeriano rumo à floresta negra num ônibus grená
Aí ele sentiu o calafrio da passagem da ventania deixada por um tubarão em atropelo dizendo antenados badalados tudo de bom um lance de lavagem que é muito legal na entrada tem um túnel o que estraga é o calor tem gente de olho no meu carro importado a mulherada a bandidagem
Aí ele foi prensado no subterrâneo no túnel marrom no odor de clorofórmio
Aí ele abriu o livro na página 53 na mesa bamba ou melhor 451 era a temperatura que ele gostaria se pudesse
Aí ele se viu cercado por um velho sábio que o avisou que ele estava usando como camisa na verdade uma saudação a Krishna
Aí ele descobriu que o céu azul eram asas de um pássaro parido nos olhos da menina que um dia acariciara o tubarão de plástico na areia da praia entre os turistas
Aí ele esqueceu o que tinha descoberto
Aí ele se deparou com a cabra velha parida não se sabe onde a mula que cagava dinheiro cujos olhos negros negros da cor das taxas de overnight
Aí ele aprendeu que o que sempre chamara de diversão era uma tropa diante da cidade inimiga abrindo os flancos para apressar o massacre ele aprendeu que devia ficar calado quando devia falar que devia falar quando devia ficar calado que a falação nunca se acabaria como se o silêncio silenciamento fosse e o reles e barato cala-te boca
Aí ele entendeu que a razão era preclara como uma camisa colorida sob o sol escaldante e que já devia saber que entender é melhor e mais prático que ser entendido
Aí ele derreteu entediado sobre a calçada
Aí estava na hora de lavar a louça
Aí alguém perguntou, e daí?

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

gosto muito disso, Daniel.