11/28/2006

Fuscum Subnigrum

Duas límpidas águas do teto em ogiva levam a acústica ao miolo dos ouvidos passilentes, por várias nuanças de creme e branco areados. Castiçais castecidos adornam os flancos do altar que ao centro ostenta uma cruz, esfumante no desenho de parede pintada logo acima, surgerindo gradual por relevo baixo a esculposa nuvem-maria, vinda equilibrada à frente, mãos saindo raios e túnica de resplendor.

Abas lambentes, as alas levantes à nave sustentam com lisos cilindros seus capitéis. De uniforme combinante, os sentinelas das memórias futuras carregam flashes e escorregam fios nos perímetros que esperam ninguém pise.

A partir de mirante mezanino de jacarandá, ela conhece de outras olvidades um panorama assim ambiente. Escada caracol rangendo a qualquer peso, coleante ao lado. Paralelas tábuas levam à grade em hastes como gotas escorrentes aos fios, em grossa marrom calda. Passageira dessa inteira moledura, atalaia a soprano, acima e trás da cena em refulgor. Vultuosa em suas costas, mãos ao longo do vestido tendente ao chão.

Os convidados chegam aos pares, trios, aos meio-trios (com apenas criança, crianças) mas poucos demais pro gasto que se teve com canto-e-órgão, flores, arrumadores de carpete. Ela vê as gordas senhoras ciscando lugar entre os prudentes primeiros a sentar. Ensaia apenas mentalmente um vocalise. O padre ainda não deu o ar de sua plena graça: é de seu hábito delegar, desdobrigar-se em prol das irmãs e beatas, diligentíssimas no cuido patrimonial de qualquer propriedade que lhes caia nas ralas pias mãos. Quando é alguém externo à paróquia a cobrar pelos serviços canoros, o quanto essas não estridulam, vendo suas comissões esboroaçarem embora na abóbada celeste!

Ao lado, pelas bordas janelas, um relance do salão de frestas traz o serelépido bailado das damas honorárias, livres do ensaio posicional por um momento infantil.

De novo ao centro a atenção é logo acesa, mais claridade contínua traz em magnésio o início da filmagem. A noiva chegou, deduz a soprano. Quase incontido por um ou outro matiz hidráulico dos azulejos de base e a madeira de lei que ressoa aos pés sobre seus saltos no plano monádico acima, o deslumbre elétrico é mais cheio que mesmo o ar, e os leves tons puxam de seu peito impostado a emergente urgência do rasgar primeiro.

Só então cai de mãos, cravado no silêncio, o anacruz acorde. E da voz se susprende ao plano simétrico amplo, fundo da grã-alvura, uma diagonal pincelada negra.

2 comentários:

Eliana Pougy disse...

Ana cantando!

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado